José Marques
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Assistimos impotentes, apreensivos e porque não, ofendidos, o arrastar-se e multiplicar-se da casos de mortes por raiva, desde finais do ano passado, em Angola, sobretudo de crianças - talvez os mais alarmantes.

Embora devamos ter em conta, que, também adulto, certamente, os há por aí, atingidos por esses animais raivosos e que partem deste mundo no maior silêncio e anonimato.

Diante deste mal que ceifa vidas humanas, os meios de informação estatais que usufruem da contribuição do erário público, adoptaram - inacreditavelmente - "a lei da rolha". Certamente por ordem de algum superior - réstias do mono partidarismo que ainda tresanda no nosso país. Uma postura não só inaceitável mas condenável.

E diria mais, uma postura assassina! Só esse instinto ou de quem dele se subjugue pode levar a tal atitude. Daqui a minha interrogação: quem está doente, nós ou os cães, gatos e macacos que satisfazem o exotismo de alguns cidadãos?

Não é novidade, infelizmente, na nossa terra, o desprezo pela vida. Sobretudo a alheia. Mas é grave quando isso provém de quem foi revestido de autoridade pública. Porque tem como primeiro dever defendê-la, protegê-la e criar as condições necessárias para que ela desabroche e cresça harmoniosamente para o bem de todo o tecido social.

A morte de qualquer cidadão, independentemente dos laços, aproximações, pertença partidária ou religiosa, idade, sexo ou cor, deve preocupar qualquer homem ou mulher investido de autoridade pública.

A "lei da rolha" imposta aos meios estatais confirma e reforça os vários silêncios de que a nossa sociedade padece e é vítima.

Ao silêncio sobre a raiva acrescentam-se outros: o silêncio sobre o VIH/Sida e sobre a transmissão intencional dessa pandemia a outrem; o silêncio sobre o assassinato de cidadãos por agentes públicos, de dia ou na calada da noite; o silêncio sobre as vítimas da DINIC; o silêncio sobre a corrupção generalizada; o silêncio sobre os desvios de fundos e açambarcamento de bens públicos; o silêncio sobre a queda acentuada dos valores morais; enfim, tantos silêncios, com os quais a sociedade não deixa de ser cúmplice, porque os aceita e os tolera. Pois "quem cala, consente" - diz-se.

Retomo aqui a minha interrogação: Quem está doente, nós ou os animais acometidos de raiva? Entremos nós nos canis e soltemos os animais raivosos apanhados - se é que foram apanhados - pois somos uma ameaça ao mundo globalizado.

Cesária Rodrigues

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7 Responses
  1. Anônimo Says:

    O mundo está doente, sim!....Não é a" Paz podre " que o salva, pois não??...Existem 1001 maneiras de resolver o que está errado, não é a raiva, cólera, e mais doenças....O que está errado no mundo é ; Ausência de diálogo, arrogância, jogos-de-faz-de-conta, tapar o sol com a peneira, etc,etc...Silêncios...O que vale ir para a rua gritar?? O que importa é alterar comportamentos e corrigir o que está errado..sem isso, resta a utopia..Afinal animais somos todos..Eu conheço animais que são super amigos, já animal homem é aquilo que se sabe....!!Na vida, tudo tem solução...há extremos que têm que ser avaliados e corrigidos....Assim vamos limando arestas ...Afinal, quem não se sente....???
    Raiva ou rancores, são sentimentos negativos que interessam só a quem tira partido com eles, e usa atacadores para atacar os outros......Conheço tanta coisa assim no mundo...

    Elisabete Santos


  2. Anônimo Says:

    é demasiado triste.
    Para além de que temos mesmo à nossa porta casos bem graves, não de raiva, mas de uma outra raiva, também social, a pobreza.

    Angélica Oliveira


  3. Anônimo Says:

    Esse descaso pela vida humana é histórico. E quanto mais a evolução dos tempos está à disposição dos homens, parece que mais o descaso cresce. Das duas uma: ou a evolução da espécie estagnou lá atrás, ou o sentimento de generosidade perdeu seu valor em algum caminho cujo trajeto desconhecemos.

    Neusinha Gedoz


  4. Anônimo Says:

    Amigo somos nós os doentes , porque compactuamos com o nosso silêncio com o nosso laisser faire com o nosso comodismo.
    Apodrecemos no nosso cantinho no meio das nossas coisinhas pequeninas e fechamos olhos e ouvidos á realidade da aldeia a que pertencemos.
    Pior que isso é fecharmos a boca também, não gritamos , não explodimos com a injustiça, corrupção e outras coisas vis.
    O ser humano devia enfurecer-se, lutar pelo que é certo mas prefere ficar na sombra acolhido.
    Fernando Pessoa dizia na Hora do Diabo (…) Sou o esquecimento de todos os deveres, a hesitação de todas as intenções.Os tristes e os cansados da vida(…) Eis o que somos.

    Iolanda Santos


  5. Anônimo Says:

    Na verdade a proliferação de animais vadios não augura nada de bom, pois sabe-se que são portadores de doenças, a menos que devidamente tratados. Mais lamentável ainda é quando o número desses animais é aumentado pela desumanidade de donos que simplesmente os abandonam quando, ou têm o desplante de crescerem “mais do que deviam” ou as criancinhas deixaram de os achar engraçados !!!!
    A penalização “forte e feia” para este tipo de gente, poderia ser dissuasora, mas infelizmente limita-se quando é possível descobrir, a uma multa, normalmente pequena.
    Reconheço o trabalho meritório de instituições não estatais e pessoas anónimas, que tudo fazem para tentar esterilizar os animais quando possível ou, como conheço, dar-lhes a “pilula” religiosamente! Poucos casos há, infelizmente. Isto quando não é possível encontrar-lhes uma casa decente, obviamente.
    Como bem menciona o blog, isto é um assunto entre muitos ! Compreendo que o estado não possa olhar para tudo e a sociedade civil terá que se habituar a que tem que ajudar e tomar a s/ cargo alguns dos problemas sociais.
    A “lei da rolha” serve muitas vezes para não se falar porque ou não se sabe ou não dá jeito! É velho o sistema.
    Aproveito no entanto esta oportunidade para remando contra a maré, manisfestar a m/ total discordância com o apoio estatal dado a toxícodependentes. Peço desculpa se posso ferir susceptibilidades, mas não vejo a mesma preocupação com alcoólicos ou viciados no jogo. Todas são doenças afinal, causadoras de suicídios e não só.
    Há um aproveitamento descarado das ajudas dadas,
    a título vitalício!!! O n/ estado não é rico, infelizmente, e mesmo que muitas despesas sejam erradas, esta não pode continuar a ser uma delas. O número de “clientes” aumenta, agressivos, autoritários, como se o tratar deles fosse uma obrigação. As benesses são mais que muitas e que se a maior parte das pessoas tivesse conhecimento delas ou se informasse, a revolta teria que surgir!

    Quanto a assuntos como a corrupção, desvios, etc,
    sempre achei que Portugal estava mal colocado no mundo. A maneira de actuar desde os governantes ao povo em geral, está muito mais condizente com qualquer país da Americana Latina, do que com a Europa.
    A falha cometeu um erro……

    Manuela Braga


  6. Maria V Says:

    Doente é o sere humano e cada vez mais,falamos nos políticos(principais culpados do estado do mundo em que vivemos),na corrupção cada vez mais espalhada por todas as classes sociais.Todos dizemos coitado do fulano e do beltrano mas juntarmo-nos e actuarmos para minimizar o mau estado das situações!?… deixar o nosso cantinho acolhedor!?Como seres humanos somos uns cobardes


  7. Anônimo Says:

    Deixemos os enraivecidos na jaula, para podermos viver e ficar sãs

    aurora moreira


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